Arte indígena contemporânea marca a cidade de Belo Horizonte
A Arte Indígena Contemporânea marcou o centro de Belo Horizonte na edição de 2020 do Circuito de Arte Urbana (Cura), que chegou ao fim nesse domingo (4). O Festival Cura contou com a curadoria de Arissana Pataxó e obras inéditas de Daiara Tukano, Jaider Esbell, Denilson Baniwa e Célia Xakriabá.
O festival foi inaugurado com a obra "ENTIDADES" de Jaider Esbell, uma instalação feita no Viaduto Santa Tereza que soma 17 metros de comprimento e 1,5 metro de diâmetro, e ficará presente até o dia 22 de outubro de 2020. "ENTIDADES" é o resultado da pesquisa e poética do artista em torno da “Cobra Grande”, a grande avó universal.

Em depoimento para o CURA 2020, Jaider fala um pouco sobre a obra:
"A Cobra Grande tá sempre trabalhando nos bastidores, sempre, incansavelmente pra nos alertar, nos proteger, nos manter vivos neste mundo enquanto povos originários dessas terras todas. A Cobra Grande representa várias simbologias, desde a fertilidade e o caminho das águas, da fartura, porque ela vive debaixo da terra, nos grandes rios subterrâneos, mantendo o movimento da água sempre pulsando para que sejam mantidas as fontes. Ela também está distribuída no universo através da Via Láctea, também no intermediário, através dos rios voadores. Então, é uma ideia de sacralizar mesmo esse animal que é tão banalizado ainda na própria Amazônia, o quanto as pessoas não valorizam a sua sabedoria, a sua medicina, o seu poder e também distendendo essa cosmologia para a nossa realidade cotidiana e atual, que é o desafio que nós temos, de substituir o garimpo por outra forma de economia. O objetivo é uma expansão, tentando fazer as pessoas entenderem que Minas Gerais, assim como a Amazônia, ainda se mantém fortemente arraigada nessa base econômica garimpeira.'"
O Festival Cura 2020 também contou com a obra de Daiara Tukano, um grande mural da Mãe das Matas e do Menino Rio, feito no edifício Levy, na Avenida Amazonas próximo à praça 7 no centro da cidade. A obra mede 21 metros de largura por 48 metros de altura e segundo a artista em postagem nas redes sociais “é a maior obra de arte indígena contemporânea do mundo, também é a primeira pintura mural dessa dimensão pintada por uma mulher indígena no mundo”.

Também em depoimento ao CURA 2020, Daiara fala sobre a Mãe das Matas e o Menino Rio.
“Esse desenho, ele representa um rio menino nos braços da sua mãe. É um recado de muito amor, de um eterno respeito e de uma eterna saudade dos povos originários por sua terra mãe. E também por seus rios, que são seus avôs, assim como o Rio Doce. E todo avô já foi menino e todo rio tem mãe. Então, eu espero que essa mensagem possa chegar ao coração das pessoas e que a gente juntos, em comunidade — independente de estar na comunidade ou não — possa aprender a valorizar o chão que a gente pisa, a água que a gente bebe, cuidar do nosso ambiente e ter uma outra relação com a cidade em que a gente está”.
Além das obras de Jaider Esbell e Daiara Tukano, aconteceu também a instalação “Bandeiras na Janela” no edifício da antiga faculdade de Engenharia da UFMG (Av. do Contorno, 842). A instalação é composta por bandeiras gigantes — entre 100 e 200 m² — feitas pelos artistas Denilson Baniwa, Célia Xakriabá, Coletivo #ColeraAlegria, @venturaprofana e Randolpho Lamonier, e ficará presente até o dia 1º de dezembro.

O Festival Cura de Arte Urbana, na edição de 2020, deu espaço à potência dos artistas indígenas, que através da arte trouxeram mensagens da Terra para o centro da cidade de Belo Horizonte. A presença de suas obras também vêm nos lembrar que Minas Gerais é Terra Indígena.
Texto de Isa Santana Para Visibilidade Indígena