Projeto Literatura Indígena no Brasil: você conhece a literatura indígena da sua região?
Atualizado: 4 de fev. de 2021
A literatura indígena brasileira contemporânea é um movimento estético-político protagonizado pelos sujeitos indígenas, na via editorial, em língua portuguesa e em língua materna, desde a década de 1990 até os dias de hoje. Com estimados 57 escritores na categoria individual, isto é, que publicam como autores de suas obras, inauguram um diálogo com a sociedade dominante sem mediação, com a intenção de diminuir as distâncias e desconhecimentos sobre os povos originários residentes no território nacional.

A difusão da produção literária indígena, que marca exatamente a reivindicação para ser conhecida enquanto contemporânea, em oposição ao “tradicional”, construída sob o signo da modernidade, que nega aos indígenas o presente. Os povos e sujeitos indígenas são constantemente condenados ao passado por serem considerados sociedades tradicionais – no sentido de antimodernas e sem Estado, e sem nação própria – com os adjetivos pejorativos que tal construção acarreta. Para enfrentar a colonialidade intrínseca à história, filosofia, literatura, e o esforço constante, diz Linda Tuhiwai Smith, socióloga Maori, “de governos, estados, sociedades e instituições para negar a constituição histórica de tais condições” que perpetuam o racismo, a desigualdade econômica e a injustiça social, é que os escritores indígenas se empenham em negociar com a sociedade hegemônica, diz Janice Thiél, “um novo lugar para tornar visível a história e as identidade indígenas”.
Os/as escritores indígenas brasileiros representam vinte e seis povos indígenas. Já é possível encontrar fontes que reúnem esses dados, tais como a Bibliografia das Publicações Indígenas do Brasil. Além dele, é possível encontrar outras informações dos escritores no site da Livraria Maracá que além de livraria também funciona como blog.
No início do ano, no dia 28 de março precisamente, como pesquisadora de doutorado em literatura indígena brasileira contemporânea, pela PUCRS, abri uma página no instagram intitulado Leia Mulheres Indígenas com intuito de divulgar a produção de autoria feminina indígena. Também em março a Carina Oliveira, Pataxó, abriu um perfil intitulado Literatura Indígena Brasileira para tematizar e compartilhar obras e perfis de literatura de autoria indígena. Desde então vimos conversando sobre a possibilidade de ampliar o alcance dessa produção literária no país.

A minha sugestão de abrirmos perfis de literatura indígena por estado, proposto no dia 31 de agosto, afetuosamente abraçado por Carina que já tinha um perfil, nos fez levar o projeto a outros parentes pesquisadores ou que se interessassem pelo tema. O pedido foi de que abrissem perfis com o endereço @literaturaindigena mais o nome do estado/cidade/comunidade em que residiam. Assim, Carina, que mora no Rio de Janeiro, manteve seu perfil de Literatura Indígena Brasil (@literaturaindigenabrasil) porque já era bastante conhecido, mas continuou e continua apoiando e orientando a parenta que abriu o perfil no Rio de Janeiro, mesma cidade que reside.
Dessa forma, eu abri o perfil do Literatura Indígena Rondônia (@literaturaindigenaro) com a intenção de divulgar os autores indígenas residentes no Estado e outros autores indígenas no Brasil. Quando outros parentes começaram a abraçar o projeto Literatura Indígena no Brasil ele se tornou coletivo, com apoio voluntário dos parentes de diferentes lugares do país. Temos até o momento os seguintes perfis, feitos pelos/as parentes, empenhados no esforço de tornar conhecida a literatura indígena em seu estado/cidade/bairro/comunidade:
Literatura Indígena Rio de Janeiro (RJ): @literaturaindigenabrasil
Literatura Indígena Guapimirim RJ: @literaturaindigenarj
Literatura Indígena Bahia (BA): @literaturaindigenabahia
Literatura Indígena Pará (PA): @literaturaindigenapa
Literatura Indígena Pernambuco (PE): @literaturaindigenape
Literatura Indígena Maranhão (MA): @literaturaindigenama
Literatura Indígena Rondônia (RO): @literaturaindigenaro
Literatura Indígena Roraima (RR): @literaturaindigenarr
Literatura Indígena Paraíba (PB): @literaturaindigenapb
Literatura Indígena Rio Grande do Norte (RN): @literaturaindigenarn
Literatura Indígena São Paulo (SP): @literaturaindigenasp
Literatura Indígena Amazonas (AM): @literaturaindigenaam
Literatura Indígena Ceará (CE): @literaturaindigenaceara
Literatura Indígena Paraná (PR): @literaturaindigenapr
Como se pode notar, ainda faltam alguns estados – e muitas cidades, bairros, comunidades – para que completemos essa iniciativa de tornar conhecida a literatura indígena dos escritores e povos indígenas em cada respectivo território.
Convidamos os parentes, nesse caso somente os/as indígenas, a abraçarem esse movimento, a fim de levarmos as referências indígenas para as escolas indígenas, para as cidades que vivemos, para os centros culturais de nossa região como forma de demarcar simbolicamente tais territórios físicos, mas também os simbólicos da cultura brasileira. A partir dessas referências podemos lutar contra o racismo estrutural enraizado na mentalidade do Estado-nação, e reivindicar reconhecimentos de nossas humanidades, modos de vida, línguas, pertencimentos. Com isso vamos desmistificando a ideia do “índio genérico” (termo não utilizado por evocar concepções negativas sobre os povos originários), ao apresentar um escritor e sua etnia; educando sobre a pluralidade e a diversidade dos mais de 305 povos e 274 línguas indígenas em detrimento da falsa concepção de que existe somente um povo (brasileiro) e uma língua (portuguesa) no país.
Assim, aos parentes, no caso indígenas, que estiverem interessados, peço que entre em contato comigo pelo endereço de e-mail juliedorrico@gmail.com que partilharei com muita alegria todo esse projeto para juntos/as/es seguirmos compartilhando as referências indígenas como forma de fortalecimento para todos nós.

Julie Dorrico é Macuxi. Autora de “Eu sou macuxi e outras histórias”, publicado pela editora Caos e Letras (2019). Doutoranda em Teoria da Literatura na PUCRS.